terça-feira, 9 de abril de 2013

De: Humberto de Campos Veras (1886 – 1934)

                                          O UIRAPURU
  "Dizem que o Uirapuru, quando desata
   A voz, Orfeu do seringal tranqüilo
  O passaredo, rápido, a segui-lo
  Em derredor agrupa-se na mata.

  Quando o canto, veloz, muda em cascata
  Tudo se queda, comovido a ouvi-lo:
  O mais nobre sabiá surta a sonata
  O canário menor cessa o pipilo.

  Eu próprio sei quanto esse canto é suave
  O que, porém, me faz cismar bem fundo
  Não é, por si, o alto poder dessa ave.

   O que mais no fenômeno me espanta
   É ainda existir um pássaro no mundo                  

   Que fique a escutar quando outro canta!" 

                  ÁFRICA
    Na partilha das sáfaras conquistas
   Desta Líbia de mouros rancorosos,
   O Deserto foi dado aos Poderosos
   E o Oásis, florido e mínimo, aos Artistas.

   E os felizes, quais são? Os mil sofistas
   Da Ventura, a pedir, de olhos gulosos,
   Terra e mais terra? Ou o que limita os gozos
   E em sete palmos acomoda as vistas?
             
   Certo, não sereis vós, ó Donatários
   Do alvo Deserto, que velais, em guerra,
    A áurea carga dos vossos dromedários.


   Mas, tu, ó Poeta, que, por onde fores,
   Teus sete palmos hás de achar na terra
   Abrindo em trigo, rebentado em flores!



Nenhum comentário:

Postar um comentário